De repente ela se vai.
É como chegar em casa e a encontrar vazia.
Não há mais cortinas, mobílias, vasos com flores, tapetes. Só o vazio com seu som e a luz mortiça entrando pela janela.
Parece foto em branco e preto desfocada.
Você se sente como um desses sujeitos que seguram uma placa, em uma das esquinas da vida, com uma seta indicando o prédio à venda mais a frente . Na placa diz: felicidade, adiante.
Ai, você percebe que a felicidade sentou em tua mesa, em um momento da festa. Ela te fez soltar risos, lágrimas de alegria, te fez sentir as cores dos momentos, das pessoas. Segurou tua mão, dançou, rodopiou pelo salão e você levitou. Havia alegria nos pequenos sorrisos, no estar junto, no prazer do beber e comer, no simples deitar à sombra de uma árvore.
Mas, de repente, ela se foi e sem dizer adeus.
Ficou você, no meio da rua, segurando uma guia estendida sem cachorro na ponta da coleira. Fazendo sinal para os ônibus, esperando que em um deles o cartaz indique o destino: Felicidade.
Sob a garoa fina de um dia cinzento, mas cheio de sol, lá vai você, não conseguindo escutar o som da vida no meio do mudo ruído da tristeza.
E o desfocado da vida permanecerá, até que consiga, em algum momento, trocar os óculos.