4/27/21

O Santo

 

"Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz."

                                                           São Francisco de Assis


O santo se despiu das roupas e do dinheiro.

- Vou servir a outro senhor. Me basta a túnica, a sandália e o cajado. Não quero um abrigo, tenho as estrelas como manta, a noite e o sol como teto.

Tenho a companhia dos pássaros entoando cantigas e dos animais se entrelaçando nas pernas e me mostrando o bom caminho.

Os animais são nossos irmãos, às vezes, mais próximos de nós que as pessoas.

Agradeço a acolhida, mas na fonte tenho frescor da água e me satisfaço com os frutos das arvores. 

Além dos pássaros e dos animais, tenho meu Pai, me dando bom dia ao alvorecer e bom descanso ao final do dia.

Caminho meu caminhar, na busca da paz pois, tenho que tê-la dentro de mim para poder ser seu instrumento.

As pessoas anseiam esperança e amor. Buscam palavras de sabedoria para o seu viver, pois, quando elas estão presentes, não há temor nem ignorância.

Tenho que ser o portador dessas mensagens.

Basta um raio de sol para afastar várias sombras. Que eu seja esse raio, ou não podendo, pelo menos uma penumbra.

Faço o necessário, depois o possível, para com Sua graça chegar ao impossível. 

Ele nos deu os pés, para que haja caminhada, as mãos para o trabalho, a cabeça para pensar e nos premiou com o coração para amarmos, não  para a aceitação do ódio.

Quando tenho dúvidas e me canso, Ele se senta ao meu lado e me pergunta:

- O que te atormenta?

Fecho meus olhos, alargo o ouvido e ao final só posso dizer:

- Paizão valeu.

Nunca me restam dúvidas. Ele sabe de tudo.




aeram

4/22/21

A Fragilidade da Vida

 


O doce revoar de um pássaro em torno de uma pétala.

Sol e a sombra de partículas.

Vento e o leve flutuar de uma pena.

Isto é a vida.

Pequenos e volúveis instantes.

No piscar de um momento, ela se modifica milimétrica ou em amplas passadas.

Somos joguetes do que pensamos dominar, mas que pode se descompassar repentinamente, como cartas de baralho.

E a mão da batida se vai.



hram

4/13/21

Palavras com Vida

 



O que escrever?

Às vezes, nada vem à mente que se aproveite. Começo a pôr palavras no papel tentando que me mostrem um caminho. Mas, as bandidas não querem ajudar. Estão me deixando na mão.

Não querem estruturar uma sequência que valha a pena. Tenho vontade de trucida-las, mas, tenho receio que se voltem contra mim e passem a relatar fatos que não quero expor.

As palavras são perigosas, tem vida própria. 

Peço:

- Vamos falar de alguém, me poupem!

Mas, não me ouvem. Causam-me temor. Estão com vida própria.

Creio, que terei que parar e guardar a folha na gaveta, para que não possam correr para o papel.

Traidoras! Deveriam estar do meu lado. Continuando assim, vou me suprir de um dicionário e a cada uma delas, vou buscar uma desconhecida, de preferência em desuso.

Elas que se cuidem.



maram

4/07/21

Aventuras de Criança


 


Era um quintal enorme. Havia abacateiro, pereiras, pé de café, amoreira. O terreno era em declive.

Em determinados momentos, fazia desse espaço uma pista de bicicross. Uma pedra no caminho se tornava numa rampa a ser subida, em outros, em uma plataforma de salto.

Havia ocasiões, em que a pista debaixo da sombra da amoreira, era por onde corria minha linha de trem, já inúmeras vezes montada e desmontada, pois, a cada formato, passava por lugares distintos: um deserto, no meio da mata, entre índios como um filme de bang-bang.

As árvores, deixavam de ser o que eram.  Algumas se transformavam em gáveas de um navio pirata, outras, faziam parte da selva, onde Tarzan batalhava com os gorilas e salvava a Jane.

Uma forquilha era ótima para colocar meu pacote de gibis, sentar em cima, lê-los ou relê-los, observando o mundo a minha volta. A vista chegava ao infinito, para meus olhos, apesar dos telhados e casas no caminho.

Cada dia, naquele espaço, era uma nova aventura. Quando havia muitas folhas pelo chão, arrastava os pés em seu meio, pois, como desbravador tinha que tomar cuidado com as cobras, do meu imaginário.

Ou seja, a cada novo olhar, a cada estado de espírito, aquele terreno se transformava. A cada sol, a cada nuvem, a cada chuva encontrava situações que me desafiavam. Era uma batalha constante.

Quando minha mãe me chamava para o almoço, todos aqueles heróis desapareciam. Notava isso, pelo olhar dela de reprimenda à minha sujeira ou aos novos arranhões e feridas adquiridos nas aventuras.



eram