2/25/21

A Jabuticaba

 



Flores se formam incrustadas em seu tronco.
O vento e a chuva muitas dispersam.
Algumas, mais forte ou teimosas permanecem.
De início um ponto negro, que como uma gota de tinta vai se ampliando em um mata-borrão.
Pássaros volteiam entre as pérolas negras e gotículas de prazer vão saboreando.
Pequenas vespas usufruem os caminhos abertos.
E o que é  uma grande desconhecida na natureza do mundo fica disponível às  nossas volúpias brasileiras.
Do negro do seu casulo, escorre o sumo doce na  boca, para recebermos a semente maturada pelo sol e pela chuva.
Junto com os pássaros e as vespas, nos regozijamos nas suas delícias, onde uma só não basta.
E melhor que o sabor do comer é o sabor das lembranças de criança.

Quando me perguntam qual o sabor da Jabuticaba, respondo: - o da infância.


aiaam




2/11/21

Vento

 


Vamos escutar o vento que corre pelos beirais.
Que balança as roupas nos varais e faz a cana se curvar em ondas de verde mar.
Vento que vem de longe, correndo entre becos, ruas e campos, trazendo liberdade no seu correr, junto com a agonia dos aprisionados.

Que despetala as flores e desnuda as árvores e aos pássaros possibilita seu voar.

Vem com o suor que refrescou e cheiroso dos perfumes que roubou pelo caminho.
Vento que esvoaça os cabelos e revolteia as saias, mostrando o que não deve.
Vamos escutar as palavras  que traz, de tristeza, envoltas em risos soltos, dos momentos felizes da vida.
Que carrega o choro da mãe no momento do filho que se vai e a alegria do retorno, do dado como perdido.
Vento que corre entre os caídos da vida e os fortes formados em pedras ou em areia.
É o mesmo que acolhe os gemidos dos amores havidos entre os coqueirais e os lamentos de dor no sexo vendido nas necessidades da vida.
Vento que revolve o pó do caminhante, transformando a estrada em um novo caminhar.
Que ondeia a água alterando o traço do ir e vir em nova rota.

Traz o distante para casa, no seu navegar, e para longe o que busca novas farturas e vida.
Vento que faz correr as nuvens transformando o sol em chuva.

Vento que cantarola quando em brisa e grita quando em fúria.
Vento que balança o berço e põe a correr o pó da lápide.
Vento molhado do mar, das montanhas ou seco do árido sertão.
Vento que ouviu palavras de esperança, promessas de amor e o choro triste da dissolução.
Vento que é muitos em um só. 

 

 

mmaam

2/10/21

Rainha do Mar

 



A rainha do mar me disse, traz teu amor pra se banhar que eu vou dar ela pra ti.
Que venha de branco com fitas azuis e traga perfume de alfazema e miçangas pra embelezar.
Traz champanhe, rosas brancas e sete moedas.
Farei dela teu amor.
Depois em lua cheia, na areia a beira mar, espero teu canto de louvação. Salve a Oxalá que te mandou este amor do fundo do mar.

Assim, foi vestida nas cores e com coroa de flores na cabeça que ganhei o coração da morena, que tem cabelos como um rio correndo pelo peito, graças a minha Orixá.
Pra ela volto a cada dia, na busca do abraço, do meu ninho.
Nela me deito e acordo com as graças de Odayá.
Já me dizia meu velho avô Yorubá, do amor que viria das graças de Iemanjá.
No dois de fevereiro, com oferendas a Iemanjá, agradeço e peço, que me proteja nos caminhos do mar e que sua mão firme me traga de volta pro meu amor, com fortuna na pesca.

Odociaba Mãe Iemanjá.

A bênção Nossa Senhora da Conceição.


Mdmmao

 

Saudade


 

Saudade dos beijos,

Abraços e afagos.
Saudade do  colo,
Do calor dos teus seios.

Saudade do cangote
Cheiroso do banho.
Da pele macia
Pra delícia das mãos.

Saudade do roçar dos pelos,
Do cabelo sedoso,
Dos lábios macios
Em suaves anseios.

Da língua
Úmida
Envolvente
Colada
No beijo
Escorrido
De saliva
E amor

Saudade das manhãs
Suadas e úmidas
Dolentes e largas,
No calor dos dois.

Saudade do teu corpo
Na penumbra, na luz,
Lampejos de ardor
Pra novo querer.

Sexo
Explosivo
Suave
Intenso
Amoroso
Romântico
Diferente
E gostoso

Saudade da roupa
Escondendo e mostrando
Pedaços de ti,
Emanando desejos.

Saudade do anseio
Do tocar e beijar
No silêncio dos dois
Ou no meio de todos

Saudade do rosto alegre
Criança na mão
Cantiga de roda,
Dos dedos no violão

Saudade da tia querida
Loirinha radiosa
De porte empinado,
Bonita e vaidosa.

Baila
Comigo
Como na tribo
Baila
Grávida
No meu esconderijo
Linda
Num banho de sol

Saudade do amor
Com os filhotes.
Frutos do ardor
De ser mãe

Filhos
No colo
No braço
Na mão
Risos
Alegrias
Palmadas
Regaço

Saudade
No pra lá e pra cá
Com avós, amigos e tios.
Todos envolvidos

Saudade
De nós
Cercado da prole
Nos corridos da vida

Saudade
Do regaço,
Do beijo, do abraço
Do carinho nos olhos,
Do amor com desejo

Saudade, muita saudade .


Mdnao



Paixão




Paixão vivi

Posso dizer.
Não muitas.
Mas na única
Que valeu o viver.



Amei
Intenso,
Corpo e alma,
No toque das mãos,
No simples roçar,
No prazer de se ver.
Amei
No esperar
Do amanhã.
Indócil
Como amantes
Costumam ser.
Amei
Entre lençóis
No arrebate do sexo,
No doce intenso
Do gozo morrer.
Te amei
No esperar dos dias,
Nas noites curtas. 
Amei no acordar.
Te amei mais
Do que disse
Te amar


eao



Um Amor

.

Encontrei
Um amor
Doce e gentil.
Só pra mim.

Carrego
No peito,
No sorriso
E me faz rir.

É só meu.
Ninguém vê,
Pois vendo
Posso perder


Se deita comigo
Me olha no espelho
E rindo me diz:
- Oi amor !

Grita baixinho:
- Vem comigo !
Sapeca um beijo
Correndo e feliz.

Vem me buscar
Sorrindo e cantando.
Ninguém nota.
Notando melhor disfarçar

Vamos pro mar,
Carregando
Colares e miçangas
Azuis e brancas.

Rindo riso,
Me embala com o  vento.
Nas areias me deita
E me cala a beijar

Guardo o amor
Num relicário,
Para quando triste
Sair a dançar.

Nino e embalo,
Canto cantigas,
Me viro em vários.
Não deixo partir

Porque se for
Não volta mais.
Tem outros corações
Para invadir


Mheao

 


Mambembe







Fui mambembe.
Andei pelos palcos da vida.
Às vezes palhaço
Outras Valente.
Vivi emoções
A luz dos refletores,
No ocaso dos camarins.
Ri risos que não queria
Lágrimas que não senti.
Vesti fantasias
Que se desfaziam.
Vi o agrado fácil
A amizade rasa.
Tive o ego dos aplaudidos,
A ilusão dos abraços ,
O esplendor dos salões.
Fui Otelo, o Malandro da Ópera,
Quixote com Dulcineia,
O herói do sertão.
Fui o trapalhão dos domingos,
O princípio e o fim
Da canção.
Vivi os aplausos e risos
E o silêncio duro da plateia,
Ao final da função.


eao