6/15/21

Dentista

 


Cadeira do dentista.

Querendo me transmitir ânimo, me fala do sol que adentra a sala e refulge no maldito motor, que logo, estará escavando as entranhas do meu dente.

Lá vem a seringa com sua agulha longa.

- Você só vai sentir uma picadinha.

Dito e feito, mas, que picadinha!

A seguir, um gosto amargo no fundo da garganta.

Logo um tremor percorre meu corpo.

Será o motor? Não, pois não o sinto, graças a anestesia.

Noto que é meu estomago, como que sinalizando o mal estar do momento.

Entre intervalos me fala de política, para o qual mal posso discordar ou não, por ter a boca cheia de algodões.

Que vontade de tossir.

- Fica assim, não se mexe – diz ele.

E a tosse o que faço?

A boca se enche de saliva. Penso:

- Põe logo essa droga do sugador!

A vontade de tossir não se foi.

- Agora mais do que nunca fica quieto, pois, já esterilizei tudo.

Não aguento, tusso.

Vejo sua cara de contrariedade.

- Vou ter que esterilizar novamente a região.

Mais um tempo de angustia.

- Pronto. Pode ficar à vontade.

Desço da cadeira como se descesse de um cadafalso.


Aoiam

2 comentários:

  1. É exatamente isso. O monólogo que só o dentista participa, as vezes chato sem que possamos expressar coisa alguma

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  2. Gosto da forma como você retrata as suas angústias , e que são exatamente as nossas! Só faltou dizer que quase arrancamos os braços das cadeiras. Tamanha tensão! Rstsr

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