12/01/25

A LINHA DA MÃO


 

A boca desdentada,

de pouca farinha,

vida dura como facada,

desdiz a linha da mão.

 

Onde, entre tragadas,

previu a cigana o futuro:

dinheiro, saúde e mulher,

augúrio de vida feliz.                                                     

 

Mas o gibão surrado,

queimado de sol,

não diz ser esse homem                                       

de mão afortunada.


A linha da cigana

que corria reta na mão,

na vida se mostrou

distante do apregoado.

 

Mulher não teve, não.

Dinheiro se esfarelou.

E de tudo dito da vida,

pedaço escarrado sobrou.

 

Faltou colo para dormir,

amor chamado de seu.

Faltou o que defender

que não fosse o sobreviver.

 

Foi pau-mandado

para cobrar e infligir.

Matar de tocaia,

sem saber o porvir.

 

Caído, com bala no peito,

sangue escorrendo,

lembra da cigana que previa               

na linha marcada da mão.

 

 Sua morte será matada

no meio do sertão,

por coisas que não são suas,

por briga encomendada.

 

Agora, decerto, o sol a pino,

os pedregulhos da estrada,

o chão nu como túmulo

e a poeira como mortalha.



ahnao // mmaai

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