3/24/21

Só Mais Uma Dose

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                                             “Qualquer beijo de novela me faz chorar”

                                               Flor da Pele – Zeca Baleiro

  1. A BEBIDA
  2. LEMBRANÇAS
  3. O DESMORONAR
  4. SEPARAÇÃO
  5. O TEMPO
  6. DIA A DIA
  7. SÓ MAIS UMA DOSE
  8. ANA LÚCIA E NELSON
  9. ENCONTRO
  10. REENCONTRO
  11. DESPEDIDA
  12. O ADEUS
  13. MAIS UMA DOSE, SÓ MAIS UMA DOSE


1 - A BEBIDA

 Nelson, tinha a sensação que seus sentimentos, como o gelo, se derretiam junto ao whisky, diluindo-se ao malte para serem facilmente digeridos.

Tinha que parar. A ansiedade de sentir a bebida na boca e penetrar pela garganta para depois amortecer as angustias era insuportável. Sabia que seu ponto de parada seria quando perdesse o sentido da realidade e só permanecesse a sensação do nada.

Tornava-se um trapo. Quantas vezes lhe colocaram num taxi e o mandaram para casa.
Só mais uma dose.  Era o que dominava sua mente, seu corpo, seus desejos.

Seus dedos apertavam o copo na grande indecisão de beber mais uma dose. Seu rosto era reflexo da batalha que ocorria dentro de si. A consciência lhe dizendo não, contra o vício dizendo sim.  Parecia a batalha do bem contra o mal, sendo que o mal sempre vencia.

 2 - LEMBRANÇAS

Num impulso, deixou a bebida na mesa e saiu atropeladamente do bar, esbarrando nas pessoas, para que não fosse retido pelo desejo de entornar o copo.

O ar fresco da rua lhe trouxe de volta à vida com suas lembranças.

Recordou a alegria do encontro da mulher amada, os primeiros momentos, os namoros, as saídas.

O especial momento em que a relação de sentimentos se fundiu com a entrega dos corpos.
Prazeres envoltos de amor. Viveram paixões. Dois anos de intenso querer, junto a Ana Lúcia.
Esses pensamentos, eram de um passado recente de alegrias que o ajudavam a se manter vivo.
O encanto de ter Ana Lúcia entre os braços, os sorrisos, o sussurrar em seu ouvido. A alegria dos segredos, das intimidades e prazeres divididos.
Cada momento juntos valia pela alegria e paz que proporcionava. Eram boas lembranças.
Os dois estavam no apogeu do seus 30 e poucos anos e no ápice do crescimento profissional.
Ana Lúcia, era gerente de relações públicas em uma multinacional e Nelson, administrativo de uma empresa familiar, em franca expansão.
Fruto do grande amor que sentiam, prepararam com empolgação um apartamento para início de vida, com espaço para os que poderiam vir.

Dividiam dia a dia os prazeres e as realizações.  Os ocorridos no serviço, as experiências, as comidas feitas à dois, os aperitivos de relaxamento, os beijos, abraços, carinhos, o amor quente, gostoso, cheio de gozos.

Haviam jantares e almoços com amigos. Nas visitas, o desejo de filhos ao observar a alegria dos outros com os seus. Cinemas, teatros, mesas de bar, tudo eram motivos para saírem, sós ou com os amigos.

Foi um início de vida a dois, maravilhoso, era o viver de sonhos.

 3 - O DESMORONAR

 Mas, a vida com sua de realidade foi se aproximando. O lado profissional, de cada um, começo a cobrá-los cada vez mais e lentamente a distanciá-los.

Não perceberam que estavam caindo na armadilha das realizações profissionais em troca do principal elo que os uniam, o amor.
O trabalho exigia de Ana Lúcia constantes almoços, jantares, confraternizações e festas.
Enquanto, Nelson, vivia os inesperados do dia a dia que o detinham além do horário.
Na semana, se encontravam em horários tardios, sempre cansados, mal dividindo os acontecidos do dia e quando sobrava ânimo e tesão faziam um sexo, muitas vezes formal.
Finais de semana, quando não trabalhando, estavam com amigos, na maioria das vezes colegas de trabalho o que levava os encontros a se parecerem mais com reuniões de confraternização empresarial que curtição.
Ela se amargurava com os constantes assédio das secretarias e assistentes que giravam em torno dele. Ele as atraia como luz que atrai insetos à sua volta. Era simpático, alegre e bem apessoado. Algumas se apaixonavam por ele.

- Pô Nelson, você não nota que as lambisgoias da Soraya e da Carmen não param de dar em cima de você. Inclusive na minha frente. Você não faz nada só deixa acontecer.

Ele retrucava uma resposta qualquer.
Ana Lúcia por sua vez, tinha uma profissão que a obrigava a uma agenda glamorosa. Entre os profissionais com que tinha que conviver, alguns pela sua beleza, simpatia e inteligência queriam dela algo mais que um simples quinhão profissional, queriam leva-la para a cama.

Nelson também reagia, via excessos de atenção com duplo sentido de alguns. Eram motivos para discussões

A questão, é que os dois gostavam dessas atenções em torno de si, apesar de saberem o quanto isto incomodava o parceiro.

 Sem perceberem, estavam sendo levados por esse turbilhão de egos, que somados a sobrecarga de trabalho, cada vez mais os distanciavam.
O esfriar de relacionamento começou a mexer com seus sentimentos.
O amor principiava a tropeçar a cada tentativa de entendimento. As palavras começavam a não se ajustar ao que sentiam e desejavam expressar.

Vaidades, egos e intrigas aumentavam as barreiras ao entendimento.

Intrigas, sim, pois, sempre há os que se alimentam da tristeza dos outros.
Acabou, afinal, se dando o rompimento. Nelson saiu de casa.

 4 - SEPARAÇÃO

Nelson, para afogar a dor que sentia, partiu para algumas tentativas de relacionamento, que não passavam de simples momentos de sexo.

Quando havia, ao final, rapidamente queria se vestir e ir embora ou que a companhia logo se fosse, para depois remoer a angustia que sentia. Não era com quem queria estar. Era um grande vazio, uma imensa falta dela, falta de amor.
Tão logo souberam que Ana Lúcia havia se separado surgiram os confidentes, os conselheiros, entre os amigos e as amigas. Desses, poucos eram realmente amigos.

Ela também saiu em busca de um novo amor. Alguns deles não passavam de simples saídas, um ou outro de um sexo sem sentido. Gostava de estar com os amigos, mas a mão que segurava, o abraço que lhe acolhia não tinha o aconchego que desejava. As palavras sussurradas aos seus ouvidos não atingiam seu coração.
Sentia falta dele. Do carinho ao acordar, do estar juntos, do rir das bobeiras, dos encontros e desencontros que terminavam em amor.
Nelson, começou a procurar na bebida o amor que não encontrava em outros braços. Buscava no torpor da bebedeira a anestesia para o vazio que sentia. Foi-se perdendo no álcool. Trabalhava duro durante o dia e a noite era como uma mariposa perdida nas luzes dos bares.

5 - O TEMPO

 Passou um tempo sem se verem. Evitavam os lugares que normalmente circulavam. Sabia um do outro pelos conhecidos.

As informações que recebiam, em vez de animá-los a se aproximarem, exerciam o efeito inverso. Contavam onde estavam, com quem estavam e o quanto estavam bem.
Quando, por acaso, se encontravam em um evento, cumprimentavam-se formalmente.

Ela notava como ele a observava, sempre que podia.

A simpatia no falar, a atração que exercia sobre as pessoas a sua volta continuava a mesma, mas, Ana Lúcia o achou triste com um ar amargurado. Seus olhares de vez em quando se cruzavam e um lampejo diferente surgia, mas, não era suficiente para romper a barreira que havia entre eles.

Nelson sofria ao vê-la linda, sorridente, feliz e sempre cercada de pessoas que se encantavam com ela, como pessoa e profissional, fora os que queriam se aproveitar.

Tratavam de não ir a locais em que sabiam que o outro poderia estar, pois, não queriam, ao se verem, trazer à tona os sentimentos reprimidos em seus corações.

 6 - DIA A DIA

 Ana Lúcia, não conseguia tirá-lo da cabeça. A todo momento era sua imagem que vinha a mente. As lembranças da vida a dois que tiveram tocavam todo o seu ser. Será que ainda o amava ou eram as recordações dos bons momentos que a atormentava?

Os amigos, quando a viam triste, diziam que devia seguir em frente. Ainda encontraria um novo e grande amor. Não devia retornar a um passado que tanto lhe magoou. Realmente era amor que ela precisava encontrar.

Nelson, por sua parte, sentia uma necessidade imensa de poder abraça-la, dizer o quanto a amava. Enebriar-se com seu sorriso, a doçura do olhar, do falar.

Em uma das ocasiões, que estavam no mesmo evento, quando do segundo copo, sentiu que poderia entrar em um caminho que o levaria a se envergonhar perante Ana Lúcia. Não conseguia resistir a bebida com todos aqueles sentimentos a flor da pele. Apesar de acompanhado, saiu repentinamente, para surpresa de sua acompanhante, deixando-a só na festa.

Foi direto para um bar. Tomou um whisky, pediu o segundo e após o terceiro foi ao banheiro. Quando se olhou no espelho, não se reconheceu, envergonhando-se da figura e imaginando como reagiria Ana Lúcia vendo-o daquele jeito.

 7SÓ MAIS UMA DOSE

 Desesperado sentou-se ao balcão e pediu mais uma dose.

Com o copo a sua frente, parou e pensou: tenho que parar. Só mais uma dose para apagar a dor que o comia por dentro e atender o anseio de entornar o copo, adormecer a mente e que se danasse o mundo.

Resistiu. Saiu do bar meio cambaleante e se perguntando:

- Será que ainda me ama?

Precisava voltar a encontra-la, mas antes teria que combater o vício que o dominava. Não era aquele trapo de homem por quem um dia ela se apaixonara.

Procurou um grupo de apoio envergonhado, pois, imaginava que só encontraria bebuns caídos na vida, para quem nada mais restava que a sarjeta. Sua surpresa, ao encontrar pessoas que tinham ou tiveram uma vida parecida a sua, mas que estavam perdidas no vício. Eram pessoas das mais diversas classes e idades. Claro havia os bebuns, mas ele também o era.

Encontrou um grupo e palavras que lhe deram arrimo e principiaram o ajudaram a sair do vício.

 8ANA LÚCIA E NELSON

 Ana Lúcia por sua parte, levava uma vida mais agitada do que já fora, pois, lançar-se no trabalho era um escape ao turbilhão de sentimentos que a martirizavam.

Tornara-se uma profissional renomada, dedicando integralmente seu tempo ao trabalho, relegando sua vida particular a segundo plano. Por mais que seus pais e irmãos e sobrinhos lhe trouxessem alegrias, sentia falta da sua própria família. Tinha pouco tempo para se dedicar a eles.

Sentia-se realizada profissionalmente. Tinha as suas aventuras de vez em quando. Dedicava o tempo que considerava conveniente aos amigos, não estando presa a relacionamentos pessoais formais. Era uma mulher livre.

Apesar disso tudo, Nelson não lhe saia do pensamento. Sentia falta do amor.

Entretanto, tratava de afastar esses pensamentos, pois, temia reviver a dor e a tristeza por que passou quando da separação. Hoje, ela não sabia que homem ele era e se ainda a amava.

 Nelson queria tê-la novamente, mas temia a rejeição, pois trazia, dentro de si, o fracasso de ser um alcoólatra e o medo de uma recaída.

Tinha receio, de ao voltarem, se perderem no torvelinho que no passado abafou seus amores e os levarem as discórdias, discussões, sofrimentos e gerar nova separação.

Era melhor viver com aquele amor acalentado no coração, sempre na esperança de um amanhã, do que a certeza de perde-lo em definitivo?

  9 - ENCONTRO

 Ao final, acabaram se encontrando no casamento de amigos.

Ela era uma das madrinhas, portanto, estava mais esplendorosa do que o normal.

Após a cerimônia houve a recepção. Nenhum deles estava acompanhado, porém, alguns amigos do passado, que sabiam do estranhamento entre eles, tratavam de blinda-los para que não estivessem juntos.

Nelson, encantando com a beleza de Ana Lúcia, como madrinha, não resistiu e se aproximou.

Para escapar do cerco dos amigos a convidou para dançar.

- Você está linda, ou seja, você já é linda, está mais linda ainda.

Ela riu. Comentou que ele também estava elegante e que em relação à última vez que o viu estava melhor, mais bonito.

- Está de amor novo? – perguntou Ana Lúcia.

- Não. Só do velho. Daquele que vive no fundo do coração e que deixa marcas profundas de saudade.

Sem jeito, ela tratou de mudar de assunto levando-a para o campo da superficialidade.

De uma música mais agitada passaram a uma mais lenta, que possibilitou aninha-la em seus braços e sentir seu rosto sobre seu ombro.

Curtiram em silêncio a dança e as emoções que traspassava pelos seus corpos.

Ao término a convidou para uma bebida e foram a uma mesa ao fundo. As duas taças de champanhe serviram de cenário para conversarem, como há muito tempo não o faziam. Houve um reviver de lembranças. Ela não reparou, mas, a taça dele permaneceu na mesa.

Vieram tira-la para dançar. Os amigos queriam interromper a possível saia justa, por que estava passando.

Enganaram-se, pois, ao término das danças, retornava à mesa onde ele estava. Num deles, trouxe dois coquetéis o qual, ele agradeceu. Ela lembrou que alguém havia dito que ele não mais bebia. Tocou de leve no assunto.

- Não gostou do aperitivo que lhe trouxe?

- Eu tenho evitado beber, não anda me fazendo bem.

A intensidade de seus olhares demonstrava grande querer. As palavras que saiam da boca não condiziam com o que ia no coração.

Lembraram os momentos alegres, de amor, de vida em comum.

Não resistindo Nelson a beijou. Ela respondeu. Suas bocas, em uma se transformaram e todas as palavras e desejos transbordaram em beijos. Leves, mordiscados, molhados, profundos.

- Vamos sair daqui, propôs Nelson?

- Sim. Vamos para minha casa.

 10 - REENCONTRO

 Formaram uma trilha de desejos deixando pelo caminho, dentro da casa, as roupas, pois, tinham ânsia de se verem, se tocarem.

Os lábios de Nelson sorviam com delicadeza seus seios, corriam por seu corpo, mordiscava seu púbis, enquanto Ana Lucia acariciava seus cabelos e passava suas mãos por seu corpo, pelo seu membro, numa ânsia de reencontrar os velhos caminhos.

Não houveram muitos preâmbulos para o sexo, mais que amoroso, foi animal, intenso. Tinham uma grande lacuna de desejos a cobrir.

Após, o sexo, deitados lado a lado, sorrindo, passaram a explorar seus rostos. Sentiram suavidades e aromas há muito esquecidos. Os recantos das orelhas onde palavras e línguas foram depositadas, o roçar dos lábios, a língua entre dedos, o mordiscar suave de tesão.

Ele não cansava de dizer que a amava. Ela o chamava de meu amor.

As bocas, constantemente, se calavam em beijos molhados em que as línguas se envolviam de desejos e saliva.

Com calma correu seus lábios pelo corpo de Ana Lucia, sabendo os pontos que mais a agradavam e ele se excitava com os gemidos de prazer.

Ela brincou com seus pelos, acarinhou e beijou seu membro que se mostrava pronto. Seu sexo úmido aguardava o leve toque dos seus dedos. Se possuíram com calma, sentindo a leveza de cada penetração, olhando-se nos olhos, onde lágrimas surgiam, e beijando sorrisos que a todo momento afloravam.

Sentiram o prazer de um gozo intenso e se fundiram como um só.

Acabaram dormindo, pela exaustão do prazer.

 11 - DESPEDIDA

 No dia seguinte a encontrou na cozinha, com uma simples camiseta, linda e sexy.

- Estou fazendo algo par nós.

Abraçando-a ajudou, como no passado, a fazer comidinhas que os dois gostavam. Frutas fatiadas, pães aquecidos, omelete, café, suco.  Era o retorno dos prazeres do passado.

Riram, falaram bobeiras graciosas e românticas, tocaram-se, beijaram-se.

Ao final seguiram para um banho como se fossem um novelo de braços e beijos.

Debaixo do chuveiro, com a água escorrendo saborearam partes de seus corpos e sexo. Ela o amou com uma ânsia, como se fosse a última, enquanto ele corria suas mãos sentido a maciez da pele, seus contornos e reentrâncias.

Vestiram-se, com ele admirando e manifestando seu agrado às peças que provava.

Ao final, ela lhe pegou pela mão e o levou até a sala onde o fez sentar para conversarem.

-Nelson, é claro que nos amamos, mas, nossa trablho não mudou e de minha parte não tenciono abrir mão de minhas realizações e de minha liberdade. Tenho grande receio, que ao voltarmos, acabemos depois de um tempo caindo nas mesmas armadilhas. Não quero voltar a sofrer.

A Empresa está me transferindo para o Rio de Janeiro, onde espera que eu incremente as atividades e eu não quero perder essa oportunidade.

-Quer dizer que este encontro não foi para revivermos nosso amor, mas, sim para nos despedirmos? – perguntou Nelson.

- Sim, para demonstrar que eu te amo, mas não vejo como possamos viver juntos.

- E nossos sonhos de uma casa, filhos, família, onde ficam? Nosso amor?

- Para que se realizem, terei de abrir mão de tudo que batalhei.

- Ana Lúcia, podemos ambos abrir mão parte de nossos tempos, como tantos casais fazem, e juntos termos uma família.

- Este não é o momento para mim, sinto muito.

 12 - O ADEUS

 Nelson, antes que ela fosse para o Rio, ligou algumas vezes, mas ela foi fria no contanto e não quis se encontrar. Depois, de cerca de dois meses, se mudou para o Rio.

Ele ligava querendo lhe visitar. Chegou a aparecer inesperadamente. O recebeu secamente na porta do prédio, pois tinha que ir a Cabo Frio para um evento da Empresa.

Nelson retornou para São Paulo, despedaçado. Decidiu que não mais a procuraria.

Voltou a buscar em outros braços o amor que desejava, mas não encontrava.

Precisou de muita força de vontade e o apoio de amigos, para não cair no alcoolismo. A cada noite de solidão, a bebida rondava seus pensamentos para poder esquecer o amor que faltava.

Sua luta contra o vício e a falta de encontrar um novo amor, levou a querer se mudar de cidade, buscar novos ares e esquecer tudo que aquela cidade lembrava.  Havia lembranças dela em cada canto e recanto.  Pediu que o transferissem para o escritório que estava sendo aberto em Miami.

Tudo acertado, resolveu uma nova tentativa de contato com Ana Lúcia. Falaram-se ao telefone.

- Continuo te amando. Você foi, e é, o grande amor da minha vida. Vou me mudar para Miami para esquecer de nós. Sei que você me ama, vem comigo. Tua Empresa tem filial por lá. Podemos começar uma nova vida.

Ela ouviu tudo, com lágrimas nos olhos, sentindo uma grande pontada no coração. Apesar de não ter querido voltar com ele, sempre o teve na lembrança e sempre esteve entre seus sonhos um dia retornarem. Mudar suas vidas e formarem a família que tanto desejavam. Faltou-lhe força, deixava que o dia a dia a envolvesse suprindo suas carências afetivas e sonhos.

Ele não a podia ver por telefone, mas ela chorando, respondeu:

- Não posso. Boa viagem e sucesso.

13 -  MAIS UMA DOSE, SÓ MAIS UMA DOSE

 Sentado no bar a espera do embarque, não resistiu e pediu uma dose de whisky. A dor e o vazio eram intensos. Seguia para Miami sabendo que deixaria para trás o que mais desejava na vida. Quando voltaria a ver Ana Lúcia? Quando se encontrassem, seriam os mesmos?

- Mais uma dose.

Embarcaram. O avião fez uma parada para abastecimento e embarque de passageiros no Rio de Janeiro. Pela janela observava a beleza da cidade e sabia que no meio dela estava um pedaço de sua vida. Gostaria de descer ali.

- Senhores passageiros, como nesta parada faremos o abastecimento da aeronave, demoraremos um pouco a mais e por isso serviremos aperitivos e snacks.

Aproveitou e pediu um whisky duplo. Sabia que não devia, mas seria só mais uma dose.

Segurando o copo nas mãos e brigando com seu desejo da bebida contra a consciência de que não deveria beber e olhando fixamente o pouco que via do Rio pela janela pensava, enquanto, os passageiros embarcavam:

- Mais uma dose. Também pouco importa. Meu sonho morre aqui.

Imerso em seus pensamentos mal deu atenção aos passageiros que embarcavam.

- Passageiros afivelem seus cintos para o procedimento de decolagem.

- Adeus Brasil, adeus Rio de Janeiro, adeus Ana Lúcia, adeus meu amor – pensou olhando pela janela e preparando-se para digerir as frustações com a bebida.

Sentiu uma mão apertar a sua. Sem ter percebido, ao seu lado, estava sentada Ana Lúcia.

Admirado, reagiu:

-Você aqui?

- Quando você me disse da viagem fiquei desesperada. Sei que as nossas vaidades abafaram o nosso amor.  Não quero nos perder e sim ter uma vida juntos.

Deca, teu amigo, que sempre torceu por nós, me deu todos os detalhes da viagem, prometendo manter segredo e torcendo por nós. Ajudou na reserva e na marcação da poltrona. 

Resolvi pedir transferência para Miami. Quero uma nova vida contigo.

Tem espaço onde você vai morar?

 Emocionados, começaram uma cena de novela, se abraçando e beijando.

 

- Comissária, por favor, troque meu whisky por um suco de laranja.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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