
Deitou-se na espreguiçadeira, no quintal, admirando o final do dia. O sol se pondo, num alaranjado maravilhoso.
Pássaros cantando e gorjeando em grande quantidade. Sanhaços, pardais, joão de barros, tesourinhas, pica paus, rolinhas e outros mais. Maritaca, em bandos, com seus gritos estridentes. Andorinhas em suaves revoadas.
Seu quintal era um oásis para passarada. Tinha um grande abacateiro, um pé de pêra, uma mangueira e algumas pequenas árvores.
Para mais atrair os pássaros fizera um grande bebedouro, com água corrente e colocava constantemente sobras e cascas de frutas em recipientes apropriados.
Para os beija-flores, bebedouros suspensos com mistura de água e açúcar, diariamente renovada.
Ouvia ao longe um rádio tocando, a criançada na rua brincando, o latir de cachorros. Sentia o aroma das mangas invadindo o seu olfato
Fechou os olhos ouvindo aquela alegre sinfonia e começou a lembrar do seu tempo de menino.
A molecada na rua brincando. Taco, pula sela, mãe da rua, queimada, pular corda.
Paravam para jantar e voltavam.
Os mais velhos com as cadeiras na calçada conversando. Contando os “causos”.
Ouviam as estórias do Saci Perere, que vinha no meio de um redemoinho, e aprontava das suas. A Mula sem Cabeça. Pelo menos uma ou duas pessoas juravam já a terem visto. O Curupira, menino arteiro com os pés virados para trás, cabelos vermelhos cumpridos e que aparecia montado num porco do mato, confundindo e assustando os caçadores para proteger os animais.
O “coisa ruim”, nas formas mais diferentes de homem e mulher, que ficava nas encruzilhadas, esperando os mais incautos, para fazer das suas tratativas em troca da alma de algum pobre mortal.
A certa hora as mães gritavam para os filhos irem para a cama, pois já era tarde.
A certa hora as mães gritavam para os filhos irem para a cama, pois já era tarde.
Como era difícil dormir com as estórias na cabeça. Eu e meus irmãos dormíamos com as cabeças cobertas com os lençóis e a cada barulho dávamos um pulo na cama e perguntávamos se alguém tinha ouvido algo. Até que o cansaço do corre-corre na rua nos dominava e dormíamos.
Tempo bom. Hoje ninguém fica mais na calçada conversando.
- Beeem.
É minha mulher me chamando.
- Bem, tá na hora da novela.
Lá vou eu para os tempos modernos, onde não tem mais saci, curupira e mula sem cabeça.
O “coisa ruim” não fica mais nas encruzilhadas, mas, sim nas novelas da TV.

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