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“Qualquer beijo de novela me faz chorar”
Flor da Pele – Zeca Baleiro
- A BEBIDA
- LEMBRANÇAS
- O DESMORONAR
- SEPARAÇÃO
- O TEMPO
- DIA A DIA
- SÓ MAIS UMA DOSE
- ANA LÚCIA E NELSON
- ENCONTRO
- REENCONTRO
- DESPEDIDA
- O ADEUS
- MAIS UMA DOSE, SÓ MAIS UMA DOSE
1 - A BEBIDA
Nelson, tinha a sensação que
seus sentimentos, como o gelo, se derretiam junto ao whisky, diluindo-se
ao malte para serem facilmente digeridos.
Tinha que parar. A ansiedade de sentir a bebida na boca e penetrar
pela garganta para depois amortecer as angustias era insuportável. Sabia
que seu ponto de parada seria quando perdesse o sentido da realidade e só
permanecesse a sensação do nada.
Tornava-se um trapo. Quantas
vezes lhe colocaram num taxi e o mandaram para casa.
Só mais uma dose. Era o que dominava sua mente, seu corpo, seus desejos.
Seus dedos apertavam o copo
na grande indecisão de beber mais uma dose. Seu rosto era reflexo da batalha
que ocorria dentro de si. A consciência lhe dizendo não, contra o vício dizendo
sim. Parecia a batalha do bem contra o
mal, sendo que o mal sempre vencia.
2 - LEMBRANÇAS
Num impulso, deixou a bebida
na mesa e saiu atropeladamente do bar, esbarrando nas pessoas, para que não
fosse retido pelo desejo de entornar o copo.
O ar fresco da rua lhe trouxe de volta à vida com suas lembranças.
Recordou a alegria do encontro da mulher amada, os primeiros momentos, os
namoros, as saídas.
O especial momento em que a relação de sentimentos se fundiu com a entrega dos
corpos.
Prazeres envoltos de amor. Viveram paixões. Dois anos de intenso querer, junto
a Ana Lúcia.
Esses pensamentos, eram de um passado recente de alegrias que o ajudavam a se manter
vivo.
O encanto de ter Ana Lúcia entre os braços, os sorrisos, o sussurrar em seu
ouvido. A alegria dos segredos, das intimidades e prazeres divididos.
Cada momento juntos valia pela alegria e paz que proporcionava. Eram boas
lembranças.
Os dois estavam no apogeu do seus 30 e poucos anos e no ápice do crescimento
profissional.
Ana Lúcia, era gerente de relações públicas em uma multinacional e Nelson,
administrativo de uma empresa familiar, em franca expansão.
Fruto do grande amor que sentiam, prepararam com empolgação um apartamento para
início de vida, com espaço para os que poderiam vir.
Dividiam dia a dia os
prazeres e as realizações. Os ocorridos
no serviço, as experiências, as comidas feitas à dois, os aperitivos de
relaxamento, os beijos, abraços, carinhos, o amor quente, gostoso, cheio de
gozos.
Haviam jantares e almoços com
amigos. Nas visitas, o desejo de filhos ao observar a alegria dos outros com os
seus. Cinemas, teatros, mesas de bar, tudo eram motivos para saírem, sós ou com
os amigos.
Foi um início de vida a dois,
maravilhoso, era o viver de sonhos.
3 - O DESMORONAR
Mas, a vida com sua de
realidade foi se aproximando. O lado profissional, de cada um, começo a
cobrá-los cada vez mais e lentamente a distanciá-los.
Não perceberam que estavam caindo na armadilha das realizações profissionais em
troca do principal elo que os uniam, o amor.
O trabalho exigia de Ana Lúcia constantes almoços, jantares,
confraternizações e festas.
Enquanto, Nelson, vivia os inesperados do dia a dia que o detinham além do
horário.
Na semana, se encontravam em horários tardios, sempre cansados, mal dividindo
os acontecidos do dia e quando sobrava ânimo e tesão faziam um sexo, muitas
vezes formal.
Finais de semana, quando não trabalhando, estavam com amigos, na maioria das
vezes colegas de trabalho o que levava os encontros a se parecerem mais com
reuniões de confraternização empresarial que curtição.
Ela se amargurava com os constantes assédio das secretarias e assistentes que
giravam em torno dele. Ele as atraia como luz que atrai insetos à sua volta.
Era simpático, alegre e bem apessoado. Algumas se apaixonavam por ele.
- Pô Nelson, você não nota
que as lambisgoias da Soraya e da Carmen não param de dar em cima de você.
Inclusive na minha frente. Você não faz nada só deixa acontecer.
Ele retrucava uma resposta
qualquer.
Ana Lúcia por sua vez, tinha uma profissão que a obrigava a uma agenda glamorosa. Entre os profissionais com que tinha que conviver, alguns pela sua
beleza, simpatia e inteligência queriam dela algo mais que um simples quinhão
profissional, queriam leva-la para a cama.
Nelson também reagia, via
excessos de atenção com duplo sentido de alguns. Eram motivos para discussões
A questão, é que os dois
gostavam dessas atenções em torno de si, apesar de saberem o quanto isto incomodava
o parceiro.
Sem perceberem, estavam sendo levados por esse
turbilhão de egos, que somados a sobrecarga de trabalho, cada vez mais os
distanciavam.
O esfriar de relacionamento começou a mexer com seus sentimentos.
O amor principiava a tropeçar a cada tentativa de entendimento. As palavras começavam
a não se ajustar ao que sentiam e desejavam expressar.
Vaidades, egos e intrigas aumentavam
as barreiras ao entendimento.
Intrigas, sim, pois, sempre
há os que se alimentam da tristeza dos outros.
Acabou, afinal, se dando o rompimento. Nelson saiu de casa.
4 - SEPARAÇÃO
Nelson, para afogar a dor que sentia, partiu para algumas tentativas de
relacionamento, que não passavam de simples momentos de sexo.
Quando havia, ao final,
rapidamente queria se vestir e ir embora ou que a companhia logo se fosse, para
depois remoer a angustia que sentia. Não era com quem queria estar. Era um
grande vazio, uma imensa falta dela, falta de amor.
Tão logo souberam que Ana Lúcia havia se separado surgiram os confidentes, os
conselheiros, entre os amigos e as amigas. Desses, poucos eram realmente
amigos.
Ela também saiu em busca de
um novo amor. Alguns deles não passavam de simples saídas, um ou outro de um
sexo sem sentido. Gostava de estar com os amigos, mas a mão que segurava, o
abraço que lhe acolhia não tinha o aconchego que desejava. As palavras
sussurradas aos seus ouvidos não atingiam seu coração.
Sentia falta dele. Do carinho ao acordar, do estar juntos, do rir das bobeiras,
dos encontros e desencontros que terminavam em amor.
Nelson, começou a procurar na bebida o amor que não encontrava em outros braços.
Buscava no torpor da bebedeira a anestesia para o vazio que sentia. Foi-se
perdendo no álcool. Trabalhava duro durante o dia e a noite era como uma
mariposa perdida nas luzes dos bares.
5 - O TEMPO
Passou um tempo sem se verem.
Evitavam os lugares que normalmente circulavam. Sabia um do outro pelos
conhecidos.
As informações que recebiam,
em vez de animá-los a se aproximarem, exerciam o efeito inverso. Contavam onde
estavam, com quem estavam e o quanto estavam bem.
Quando, por acaso, se encontravam em um evento, cumprimentavam-se formalmente.
Ela notava como ele a
observava, sempre que podia.
A simpatia no falar, a
atração que exercia sobre as pessoas a sua volta continuava a mesma, mas, Ana
Lúcia o achou triste com um ar amargurado. Seus olhares de vez em quando se
cruzavam e um lampejo diferente surgia, mas, não era suficiente para romper a
barreira que havia entre eles.
Nelson sofria ao vê-la linda,
sorridente, feliz e sempre cercada de pessoas que se encantavam com ela, como
pessoa e profissional, fora os que queriam se aproveitar.
Tratavam de não ir a locais
em que sabiam que o outro poderia estar, pois, não queriam, ao se verem, trazer
à tona os sentimentos reprimidos em seus corações.
6 - DIA A DIA
Ana Lúcia, não conseguia
tirá-lo da cabeça. A todo momento era sua imagem que vinha a mente. As
lembranças da vida a dois que tiveram tocavam todo o seu ser. Será que ainda o
amava ou eram as recordações dos bons momentos que a atormentava?
Os amigos, quando a viam
triste, diziam que devia seguir em frente. Ainda encontraria um novo e grande
amor. Não devia retornar a um passado que tanto lhe magoou. Realmente era amor
que ela precisava encontrar.
Nelson, por sua parte, sentia
uma necessidade imensa de poder abraça-la, dizer o quanto a amava. Enebriar-se
com seu sorriso, a doçura do olhar, do falar.
Em uma das ocasiões, que
estavam no mesmo evento, quando do segundo copo, sentiu que poderia entrar em
um caminho que o levaria a se envergonhar perante Ana Lúcia. Não conseguia
resistir a bebida com todos aqueles sentimentos a flor da pele. Apesar de
acompanhado, saiu repentinamente, para surpresa de sua acompanhante, deixando-a
só na festa.
Foi direto para um bar. Tomou
um whisky, pediu o segundo e após o terceiro foi ao banheiro. Quando se olhou
no espelho, não se reconheceu, envergonhando-se da figura e imaginando como
reagiria Ana Lúcia vendo-o daquele jeito.
7 - SÓ MAIS UMA DOSE
Desesperado sentou-se ao
balcão e pediu mais uma dose.
Com o copo a sua frente,
parou e pensou: tenho que parar. Só mais uma dose para apagar a dor que o comia
por dentro e atender o anseio de entornar o copo, adormecer a mente e que se danasse
o mundo.
Resistiu. Saiu do bar meio
cambaleante e se perguntando:
- Será que ainda me ama?
Precisava voltar a
encontra-la, mas antes teria que combater o vício que o dominava. Não era
aquele trapo de homem por quem um dia ela se apaixonara.
Procurou um grupo de apoio
envergonhado, pois, imaginava que só encontraria bebuns caídos na vida, para
quem nada mais restava que a sarjeta. Sua surpresa, ao encontrar pessoas que
tinham ou tiveram uma vida parecida a sua, mas que estavam perdidas no vício.
Eram pessoas das mais diversas classes e idades. Claro havia os bebuns, mas ele
também o era.
Encontrou um grupo e palavras
que lhe deram arrimo e principiaram o ajudaram a sair do vício.
8 - ANA LÚCIA E NELSON
Ana Lúcia por sua parte,
levava uma vida mais agitada do que já fora, pois, lançar-se no trabalho era um
escape ao turbilhão de sentimentos que a martirizavam.
Tornara-se uma profissional
renomada, dedicando integralmente seu tempo ao trabalho, relegando sua vida
particular a segundo plano. Por mais que seus pais e irmãos e sobrinhos lhe
trouxessem alegrias, sentia falta da sua própria família. Tinha pouco tempo
para se dedicar a eles.
Sentia-se realizada
profissionalmente. Tinha as suas aventuras de vez em quando. Dedicava o tempo
que considerava conveniente aos amigos, não estando presa a relacionamentos
pessoais formais. Era uma mulher livre.
Apesar disso tudo, Nelson não
lhe saia do pensamento. Sentia falta do amor.
Entretanto, tratava de afastar
esses pensamentos, pois, temia reviver a dor e a tristeza por que passou quando
da separação. Hoje, ela não sabia que homem ele era e se ainda a amava.
Nelson queria tê-la novamente, mas
temia a rejeição, pois trazia, dentro de si, o fracasso de ser um alcoólatra e
o medo de uma recaída.
Tinha receio, de ao voltarem,
se perderem no torvelinho que no passado abafou seus amores e os levarem as
discórdias, discussões, sofrimentos e gerar nova separação.
Era melhor viver com aquele
amor acalentado no coração, sempre na esperança de um amanhã, do que a certeza
de perde-lo em definitivo?
9 - ENCONTRO
Ao final, acabaram se encontrando
no casamento de amigos.
Ela era uma das madrinhas,
portanto, estava mais esplendorosa do que o normal.
Após a cerimônia houve a
recepção. Nenhum deles estava acompanhado, porém, alguns amigos do passado, que
sabiam do estranhamento entre eles, tratavam de blinda-los para que não
estivessem juntos.
Nelson, encantando com a
beleza de Ana Lúcia, como madrinha, não resistiu e se aproximou.
Para escapar do cerco dos
amigos a convidou para dançar.
- Você está linda, ou seja,
você já é linda, está mais linda ainda.
Ela riu. Comentou que ele
também estava elegante e que em relação à última vez que o viu estava melhor,
mais bonito.
- Está de amor novo? –
perguntou Ana Lúcia.
- Não. Só do velho. Daquele
que vive no fundo do coração e que deixa marcas profundas de saudade.
Sem jeito, ela tratou de
mudar de assunto levando-a para o campo da superficialidade.
De uma música mais agitada
passaram a uma mais lenta, que possibilitou aninha-la em seus braços e sentir
seu rosto sobre seu ombro.
Curtiram em silêncio a dança
e as emoções que traspassava pelos seus corpos.
Ao término a convidou para
uma bebida e foram a uma mesa ao fundo. As duas taças de champanhe serviram de
cenário para conversarem, como há muito tempo não o faziam. Houve um reviver de
lembranças. Ela não reparou, mas, a taça dele permaneceu na mesa.
Vieram tira-la para dançar.
Os amigos queriam interromper a possível saia justa, por que estava passando.
Enganaram-se, pois, ao
término das danças, retornava à mesa onde ele estava. Num deles, trouxe dois
coquetéis o qual, ele agradeceu. Ela lembrou que alguém havia dito que ele não
mais bebia. Tocou de leve no assunto.
- Não gostou do aperitivo que
lhe trouxe?
- Eu tenho evitado beber, não
anda me fazendo bem.
A intensidade de seus olhares
demonstrava grande querer. As palavras que saiam da boca não condiziam com o que
ia no coração.
Lembraram os momentos
alegres, de amor, de vida em comum.
Não resistindo Nelson a
beijou. Ela respondeu. Suas bocas, em uma se transformaram e todas as palavras
e desejos transbordaram em beijos. Leves, mordiscados, molhados, profundos.
- Vamos sair daqui, propôs
Nelson?
- Sim. Vamos para minha casa.
10 - REENCONTRO
Formaram uma trilha de
desejos deixando pelo caminho, dentro da casa, as roupas, pois, tinham ânsia de
se verem, se tocarem.
Os lábios de Nelson sorviam
com delicadeza seus seios, corriam por seu corpo, mordiscava seu púbis,
enquanto Ana Lucia acariciava seus cabelos e passava suas mãos por seu corpo,
pelo seu membro, numa ânsia de reencontrar os velhos caminhos.
Não houveram muitos
preâmbulos para o sexo, mais que amoroso, foi animal, intenso. Tinham uma
grande lacuna de desejos a cobrir.
Após, o sexo, deitados lado a
lado, sorrindo, passaram a explorar seus rostos. Sentiram suavidades e aromas há
muito esquecidos. Os recantos das orelhas onde palavras e línguas foram
depositadas, o roçar dos lábios, a língua entre dedos, o mordiscar suave de tesão.
Ele não cansava de dizer que
a amava. Ela o chamava de meu amor.
As bocas, constantemente, se
calavam em beijos molhados em que as línguas se envolviam de desejos e saliva.
Com calma correu seus lábios
pelo corpo de Ana Lucia, sabendo os pontos que mais a agradavam e ele se
excitava com os gemidos de prazer.
Ela brincou com seus pelos,
acarinhou e beijou seu membro que se mostrava pronto. Seu sexo úmido aguardava o
leve toque dos seus dedos. Se possuíram com calma, sentindo a leveza de cada
penetração, olhando-se nos olhos, onde lágrimas surgiam, e beijando sorrisos
que a todo momento afloravam.
Sentiram o prazer de um gozo
intenso e se fundiram como um só.
Acabaram dormindo, pela
exaustão do prazer.
11 - DESPEDIDA
No dia seguinte a encontrou
na cozinha, com uma simples camiseta, linda e sexy.
- Estou fazendo algo par nós.
Abraçando-a ajudou, como no
passado, a fazer comidinhas que os dois gostavam. Frutas fatiadas, pães
aquecidos, omelete, café, suco. Era o
retorno dos prazeres do passado.
Riram, falaram bobeiras
graciosas e românticas, tocaram-se, beijaram-se.
Ao final seguiram para um
banho como se fossem um novelo de braços e beijos.
Debaixo do chuveiro, com a
água escorrendo saborearam partes de seus corpos e sexo. Ela o amou com uma
ânsia, como se fosse a última, enquanto ele corria suas mãos sentido a maciez
da pele, seus contornos e reentrâncias.
Vestiram-se, com ele
admirando e manifestando seu agrado às peças que provava.
Ao final, ela lhe pegou pela
mão e o levou até a sala onde o fez sentar para conversarem.
-Nelson, é claro que nos
amamos, mas, nossa trablho não mudou e de minha parte não tenciono abrir mão de
minhas realizações e de minha liberdade. Tenho grande receio, que ao voltarmos,
acabemos depois de um tempo caindo nas mesmas armadilhas. Não quero voltar a sofrer.
A Empresa está me
transferindo para o Rio de Janeiro, onde espera que eu incremente as atividades
e eu não quero perder essa oportunidade.
-Quer dizer que este encontro
não foi para revivermos nosso amor, mas, sim para nos despedirmos? – perguntou Nelson.
- Sim, para demonstrar que eu
te amo, mas não vejo como possamos viver juntos.
- E nossos sonhos de uma
casa, filhos, família, onde ficam? Nosso amor?
- Para que se realizem, terei
de abrir mão de tudo que batalhei.
- Ana Lúcia, podemos ambos abrir
mão parte de nossos tempos, como tantos casais fazem, e juntos termos uma
família.
- Este não é o momento para
mim, sinto muito.
12 - O ADEUS
Nelson, antes que ela fosse
para o Rio, ligou algumas vezes, mas ela foi fria no contanto e não quis se
encontrar. Depois, de cerca de dois meses, se mudou para o Rio.
Ele ligava querendo lhe
visitar. Chegou a aparecer inesperadamente. O recebeu secamente na porta do
prédio, pois tinha que ir a Cabo Frio para um evento da Empresa.
Nelson retornou para São
Paulo, despedaçado. Decidiu que não mais a procuraria.
Voltou a buscar em outros
braços o amor que desejava, mas não encontrava.
Precisou de muita força de
vontade e o apoio de amigos, para não cair no alcoolismo. A cada noite de
solidão, a bebida rondava seus pensamentos para poder esquecer o amor que
faltava.
Sua luta contra o vício e a
falta de encontrar um novo amor, levou a querer se mudar de cidade, buscar
novos ares e esquecer tudo que aquela cidade lembrava. Havia lembranças dela em cada canto e recanto.
Pediu que o transferissem para o
escritório que estava sendo aberto em Miami.
Tudo acertado, resolveu uma
nova tentativa de contato com Ana Lúcia. Falaram-se ao telefone.
- Continuo te amando. Você
foi, e é, o grande amor da minha vida. Vou me mudar para Miami para esquecer de
nós. Sei que você me ama, vem comigo. Tua Empresa tem filial por lá. Podemos
começar uma nova vida.
Ela ouviu tudo, com lágrimas
nos olhos, sentindo uma grande pontada no coração. Apesar de não ter querido
voltar com ele, sempre o teve na lembrança e sempre esteve entre seus sonhos um
dia retornarem. Mudar suas vidas e formarem a família que tanto desejavam.
Faltou-lhe força, deixava que o dia a dia a envolvesse suprindo suas carências
afetivas e sonhos.
Ele não a podia ver por
telefone, mas ela chorando, respondeu:
- Não posso. Boa viagem e
sucesso.
13 - MAIS UMA DOSE, SÓ MAIS UMA
DOSE
Sentado no bar a espera do
embarque, não resistiu e pediu uma dose de whisky. A dor e o vazio eram intensos.
Seguia para Miami sabendo que deixaria para trás o que mais desejava na vida.
Quando voltaria a ver Ana Lúcia? Quando se encontrassem, seriam os mesmos?
- Mais uma dose.
Embarcaram. O avião fez uma
parada para abastecimento e embarque de passageiros no Rio de Janeiro. Pela
janela observava a beleza da cidade e sabia que no meio dela estava um pedaço
de sua vida. Gostaria de descer ali.
- Senhores passageiros, como
nesta parada faremos o abastecimento da aeronave, demoraremos um pouco a mais e
por isso serviremos aperitivos e snacks.
Aproveitou e pediu um whisky
duplo. Sabia que não devia, mas seria só mais uma dose.
Segurando o copo nas mãos e
brigando com seu desejo da bebida contra a consciência de que não deveria beber
e olhando fixamente o pouco que via do Rio pela janela pensava, enquanto, os
passageiros embarcavam:
- Mais uma dose. Também pouco
importa. Meu sonho morre aqui.
Imerso em seus pensamentos
mal deu atenção aos passageiros que embarcavam.
- Passageiros afivelem seus
cintos para o procedimento de decolagem.
- Adeus Brasil, adeus Rio de
Janeiro, adeus Ana Lúcia, adeus meu amor – pensou olhando pela janela e preparando-se
para digerir as frustações com a bebida.
Sentiu uma mão apertar a sua.
Sem ter percebido, ao seu lado, estava sentada Ana Lúcia.
Admirado, reagiu:
-Você aqui?
- Quando você me disse da
viagem fiquei desesperada. Sei que as nossas vaidades abafaram o nosso amor. Não quero nos perder e sim ter uma vida juntos.
Deca, teu amigo, que sempre
torceu por nós, me deu todos os detalhes da viagem, prometendo manter segredo e
torcendo por nós. Ajudou na reserva e na marcação da poltrona.
Resolvi pedir transferência para
Miami. Quero uma nova vida contigo.
Tem espaço onde você vai
morar?
Emocionados, começaram uma cena
de novela, se abraçando e beijando.
- Comissária, por favor, troque
meu whisky por um suco de laranja.